Lançamento revela sintonia e intimidade e desponta como destaque do gênero no ano.
Liz Kaweria e Jxkv, ou Joka, nomes em ascensão nacional e ao mesmo tempo em processo final de consolidação no território soteropolitano lançaram um projeto colaborativo que vem chamando muita atenção e provocando críticas extremamente positivas do público especializado, destacando a versatilidade e o caráter versátil da proposta sonora de R&B chamada pluggnb do que podemos chamar de dupla, já observado por aqui em projeto anterior:
Conseguimos uma exclusiva com o duo, que entre muitos detalhes, vai explorar o processo criativo, referências e próximos passos em suas trajetórias artísticas, sem mais delongas, Liz e Joka:
1. Sobre o EP "Broke! Vol. 2"
Como surgiu a ideia para o EP "Broke! Vol. 2"? O que inspirou este projeto?
Liz: Acho que foi algo muito natural, eu e Joka já conversávamos sobre trabalhar mais vezes e a gente ouvia pedidos recorrentes e feedbacks positivos e duradouros sobre “Broke!” então só fez sentido a gente partir para um volume 2
Você poderia nos contar um pouco sobre o processo de colaboração com Joka? Como foi trabalhar juntos neste EP?
Liz: Refletindo sobre o nosso emocional do momento que a gente fez o projeto. A gente tem uma paixão mútua pelo R&B seja ele de forma pura ou em colaboração com o plugg então trabalhar com Joka já é natural, junta esses dois fatores, só fica melhor
Joka: A ideia para Broke Vol 2 surgiu um pouco antes da gente lançar o Depois da Madrugada, tipo alguns meses antes a gente já tinha algumas músicas prontas que iam na mesma vibe do volume 1 e a gente decidiu juntar todas essas músicas e transformar em uma mixtape. Nós queríamos mudar o nome né, que eu lembre, a gente não queria que fosse Broke Volume 2, a gente queria só que fosse outra mixtape de Liz e Joka, mas a gente decidiu continuar com essa história de Broke que muita gente gostou e gosta do primeiro ainda, pedem pra gente cantar as músicas nos shows, ouvem pra caralho o primeiro volume ainda, é um dos álbuns da gente que mais ouvem. O projeto foi exatamente isso, a gente tava inspirado, que a gente tava lançando o Depois da Madrugada, a gente sabia que aquilo ali ia dar certo de certa forma, nós queríamos deixar mais coisas prontas e com qualidade, antes que eu fosse pra São Paulo e antes que Liz fosse se mudar pra João Pessoa também. Então eu, Liz e Fiteck, nesses últimos meses de 2023, quando Depois da Madrugada já tava pronta, a gente focou em fazer projetos pra deixar pronto, pra quando eu saísse de Salvador e não tivesse mais um estúdio lá, eles já tivessem coisas pra lançar até não sei quando. ° Trabalhar com Liz é uma coisa que nunca tive problema. A questão criativa da gente é sempre muito clara, sempre respeitamos o processo do outro, sempre respeitamos o que o outro quer falar, o que o outro está sentindo na música e se o resultado final não for como a gente quer, a gente joga fora. É o que já fizemos várias vezes, inclusive tinha uma música que era pra entrar na tape que a gente jogou fora, porque Liz não queria lançar. Então é isso, é um processo fácil, é um processo de um ajudar o outro, um vai dizendo o que acha melhor, com melodia, com letra, enfim. Já o processo visual do EP, foi mais fácil ainda, a gente teve a sorte de trabalhar com Jozá (@salvadorjoza) que é um cara que nós temos muito respeito pelo trabalho musical, e ele pulou na nossa bala na parte visual fazendo uma capa que nós somos apaixonados. Ele deu atenção pra gente, de fato. 2. ° Tipo, eu ouço música descontroladamente desde que eu tenho 7 anos de idade, então influências eu tenho várias, só que pra essa mixtape, como se trata sobre relacionamento, essas coisas mais sentimentais, obviamente, eu caço mais dentro da minha criação no emo. Só que também eu tenho muita criação na soul music, no R&B em si, eu ouvi muito Marvin Gaye, Tim Maia que não sai da playlist nunca, Cassiano, Hyldon. Coisas mais recentes tipo o álbum da Tinashe que lançou ano passado, T Pain, Nadson O Ferinha. Então, tipo... As minhas influências pra compor liricamente foi mais pro emo e pro Nadson o Ferinha. Mas minhas influências pra compor a melodia foi mais pro soul music e pro R&B. ° Desafio eu acho que pra gente não é nenhum, né? Porque quem uniu esses estilos não foi a gente, foram os produtores do EP. Eles que fizeram os instrumentais, eles que fizeram as vibes pra gente, a gente só fez cantar em cima, a gente faz a parte mais fácil. Então tipo, mesclar trap, R&B, hip-hop e outras coisas em Broke não é mérito nenhum nosso, é mérito somente dos produtores, essa pergunta devia ser feita pra eles. Máximo de respeito pra Stuani, Zone, Miranda, Amandes e Fernando Favin.
2. Influências e Referências
Quais são as suas principais influências musicais? Há algum artista ou grupo que você considera uma inspiração direta para este EP?
Liz: Eu cresci em lar evangélico então o gospel nacional e internacional eram muito presentes em minha casa, meus pais também eram cantores e musicistas, então a maior referência foi a música cristã. Eu fui crescendo e fui começando a navegar mais só, em especial música norte americana, daí fui explorando cada vez mais e nunca mais parei. Acho que pra esse EP referências certeiras foram Marvin Gaye, projetos como “I Want You”, e “Real R&B” de Guhhl a gente ouviu muito na reta final do projeto, foi bem na época que saiu, então definitivamente a gente foi muito influenciado pela vibe. A mesclagem de diversos gêneros foi algo muito natural, já é algo que a gente faz bastante, a única coisa que tínhamos em acordo sobre esse EP é que queríamos ele mais puxado pro R&B
3. Origens Artísticas
Conte-nos um pouco sobre suas origens artísticas. Quando você começou a se interessar por música e como foi o início da sua carreira?
Como sua origem soteropolitana influencia sua música? Existem elementos da cultura local que você incorpora em suas composições?
Liz: Minha família é tipo a casa dos artistas (kkk), meu pai canta e toca qualquer instrumento existente e minha mãe era backing vocal dele na época que ele era ministro de louvor na igreja que frequentávamos então definitivamente tá no sangue, meus pais dizem que a primeira música que eu compus eu tinha 3 anos de idade (justamente como você imagina uma música vindo de alguém com 3 anos kkk). A música sempre esteve presente em minha vida mas levou um tempo até eu entender que era isso que eu deveria fazer e talvez levar um pouco mais a sério. Então eu fiz uma música, gravei, lancei. Totalmente sem saber como fazer e sem expectativa alguma, mas com a ajuda de várias pessoas incríveis desde a parte da faixa até a capa. O som saiu, algumas pessoas ouviram, gostaram e pediram pra eu fazer mais, eu também curti muito o processo, então só continuei. Definitivamente nascer e crescer em Salvador é um privilégio, a cultura musical é muito vasta e vai muito além de apenas Salvador. Definitivamente tem muito de Salvador na forma que eu falo, articulo frases, gírias, ditados, eu faço o máximo pra trazer esse feeling na minha arte porque é exatamente isso que sou, vivo e quero mostrar.
Joka: Minha origem artística vem desde que eu tenho 3 anos de idade, eu ganhei uma bateria da minha mãe, aquelas baterias de criança, e desde então eu comecei a tocar instrumentos. Eu era uma criança muito hiperativa, aí ela acreditou que a bateria ia me fazer melhorar, então veio daí a minha criação musical, eu gostava muito de ouvir rock, e a partir daí depois eu aprendi a tocar violão, aí depois eu aprendi a tocar um pouco de piano, e quando eu tinha uns 12 anos de idade, eu acabei entrando numa banda que durou até 2020, ela se chamava ‘Monera’, a gente começou tocando punk e acabou fazendo uma mistura de axé e punk, nós acabamos em 2020 e a partir daí eu comecei a levar minha carreira solo mais a sério, porque antes eu me considerava mais produtor, mesmo já com músicas lançadas com minha voz, eu comecei a jogar a minha cara de artista como cantor mais pra frente. Eu acredito que o início da minha carreira como cantor mesmo veio a partir de 2017, mas a minha origem artística vem desde que eu sou criança. E a minha origem soteropolitana influencia completamente em todos os quesitos musicais em minhas composições, seja na melodia e seja do jeito que eu componho a letra. Tipo, eu componho tudo que eu vivi em Salvador. Tudo que eu escrevi foi algo que eu vi acontecer em Salvador, que eu passei em Salvador. Então Salvador está 100% incluído nas minhas composições. Não só em questões melódicas e rítmicas, mas principalmente nas questões líricas, porque tudo que eu escrevo é sobre o que eu vivi em Salvador, tem minhas vivências ali.
4. Processos Criativos
Como é o seu processo criativo? Você segue algum ritual ou método específico ao compor e gravar suas músicas?
Liz: Meu processo criativo ocorre de várias formas, mas o jeito que mais curto fazer música é num estúdio com a mínima quantidade de pessoas ali e que de preferência seja para fumantes (kkkk). Geralmente, eu ouço o instrumental antes e depois vou desenvolvendo a melodia, as vezes a letra vem nessa hora ou então eu vou atrás dela depois de definir a melodia. Acho que todas as faixas do volume 2 de Broke tem um pouco de significado mesmo não sendo dedicado pra alguém específico, até porque gosto de olhar pra esse projeto como uma continuação da vida depois que você desencana da pessoa mas continua reverberando a experiência (e/ou os traumas que ela deixou kk) mas numa vibe muito mais despegada, focada em si mesmo e em sua experiência enquanto um ser humano vivenciando a vida e sentindo as emoções e sentimentos.
Joka: O nosso processo criativo mudou de 2022 para cá, eu acredito, porque antes disso Liz e Fiteck não sabiam se gravar no programa e depois que eu comecei a ensinar eles as coisas mudaram, acredito que eles mudaram os métodos de composição e eu fiquei mais livre sem precisar ficar horas e horas sentado no computador gravando as músicas deles. Então eu deixava meu computador lá e eles iam gravar quantas músicas eles precisavam e foi assim que a gente fez o processo criativo de 2022 pra cá. Geralmente na parte da criação das músicas, a gente escolhia o beat primeiro, aí depois a gente se gravava, eu não sei dizer por Liz, mas todas as músicas nessa mixtape eu fiz por ‘free verse’, que é o ato de você sentar na frente do microfone e ir gravando frase por frase, como se fosse um freestyle, você vai gravando frase por frase e pausa, aí grava outra frase e pausa, e foi assim que eu gravei Broke 2 inteiro, e se eu não me engano foi assim que eu gravei a maioria das músicas, inclusive do Depois da Madrugada. Fiquei gravando assim desde 2020, foi agora no final de 2023 para 2024 que eu comecei a escrever de novo, que eu voltei a treinar minha escrita, porque eu gosto de ficar mudando essas coisas, gosto de mudar meus métodos, porque acho que se a gente insiste muito em um método durante muito tempo, ele acaba cansando, tanto para a gente quanto para os outros. Então eu comecei a escrever de novo para ver se eu melhoro minha escrita e minhas composições. ° Cara, eu acho que Broke 2 tem um significado não só em uma faixa, mas pelo EP inteiro. Um significado de desapego. Liz falou em outros lugares, Broke 1 foi uma mixtape para sofrer, digamos assim. A gente estava numa desilusão amorosa, os dois ao mesmo tempo, aí a gente fez um álbum sofrendo. Eu acho que Broke 2 é um álbum desapegado, tanto que a gente jogou música fora para fazer ele, né? Tipo, a gente não tem mais apego a nada, entendeu? Então eu acredito que Broke 2 foi assim, o significado não é uma faixa, é todas as faixas. Todas as faixas significam desapego, significam outra fase da nossa vida, uma fase que a gente não quer mais sofrer tanto, a gente ainda sofre, como tá lá em Tanto Faz, como tá lá em Ponto Forte, mas no quesito de EP inteiro, é um EP de desapego, e mesmo desapegado o sofrimento ainda persiste, mas lidamos com ele com mais maturidade.
5. Próximos Passos
Quais são seus próximos passos após o lançamento do ""Broke! Vol. 2"? Podemos esperar novos projetos ou colaborações em breve?
Como você vê sua carreira evoluindo nos próximos anos? Quais são seus objetivos e sonhos a longo prazo?
6. Mensagem para os Fãs
Que mensagem você gostaria de deixar para seus fãs, especialmente aqueles que estão acompanhando sua trajetória desde o início?
Liz: Novos projetos definitivamente podem esperar. Muita coisa eu adiantei quando ainda estava em Salvador que vem saindo agora, muita coisa mesmo. E muita coisa pra ser feita também, só peço que não me abandonem (voz de Mano Brown). Eu espero um dia viver de forma estável através da música, quero continuar me divertindo e fazendo conexões através disso também, o dia que isso não acontecer mais, eu paro (eu acho). 6. Pra geral que ouve, só agradecer mesmo. É muito importante pra mim, não sou a melhor me expressando mas quem tá ligado, tá ligado. É muito doido que as maluquices que passo, sinto e escrevo muita gente também se identifica, se diverte, se emociona, é muito foda isso.
Joka: Os próximos passos depois do lançamento dessa mixtape é continuar fazendo música como a gente sempre fez. Sobre colaborações, acredito que a gente vai ficar sem gravar música com outro durante muito tempo pelo visto, né? Porque a gente tá morando em estados diferentes, pra gente se bater pelo menos vai ser uma vez, duas vezes no ano. Mas a gente (Eu, Liz e Fiteck) temos muitas músicas colaborativas prontas. Eu estou em processo de composição do meu álbum solo, planejando lançar meu álbum no final desse ano ou começo do ano que vem. To construindo um álbum diferente de tudo que já lancei, to saindo um pouco da linha do Rap, Trap e colocando outras vibes que fazem parte de mim dentro dele. Liz também tá fazendo o álbum dela que eu to ligado. E pros próximos anos eu me vejo em um lugar mais confortável financeiramente. O que eu almejo é conseguir um pouco mais de reconhecimento da cena MUSICAL, não só do Rap. Pretendo conseguir tirar uma grana como artista também, não só no ramo de produção musical que eu já faço desde 2016. Uma coisa muito importante, que eu acho que todo artista tem que tirar da cabeça é que o objetivo final dele é ser muito rico e ser muito famoso, porque isso é um objetivo fútil e também é uma parada quase impossível de acontecer. Você só vai ser muito rico ou muito famoso se encontrar alguém muito rico para botar dinheiro em você, ou se tiver alguém muito famoso para te promover de graça. Então tipo, se você não tiver um contato ou muito dinheiro, você não vai conseguir ser muito famoso, nem muito rico, e se você conseguir ser muito famoso, sua fama vai acabar em alguns anos se você não conseguir manejar isso. Esse mercado é torturante, a gente tem que parar de ter essa ideia na nossa cabeça que a gente precisa ficar rico e muito famoso, porque isso é doentio, entendeu? Isso é doentio, essa ideia é o que fode a cabeça dos artistas, fazem artistas frustrados, faz a gente se moldar artisticamente para os pilares da indústria musical do mundo atual. E uma coisa que eu não quero fazer é me moldar para agradar o mercado. Então, eu acredito que eu vou ver minha carreira evoluindo sim, só que eu não vou deixar de ser quem eu sou pra isso acontecer.
A todo mundo que ouviu Broke Vol 2, recomendo que vocês continuem ouvindo a tape, e se você enjoar, fica de boa, ainda tem o Depois da Madrugada pra você ouvir, também tem Broke, o primeiro volume. Sem contar que Liz tem 2 tapes solo incríveis, eu tenho 10 mixtapes na rua, Fiteck tem várias tapes na rua e ano passado ele lançou “Novo Sol” também, que é um álbum focado no afrobeat. Nosso grupo tem muito lançamento, eu arrisco dizer que somos o grupo que mais lançamos música na pista em Salvador nos últimos 3 anos. Então é isso, obrigado a todos que tão ouvindo, obrigado aos que tão com a gente desde sempre, e aos que chegaram agora
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Nassor de Oliveira Ramos é cientista político, articulador cultural e criador da @rnbbrazil
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