No dia 11 de abril de 2024, o São Paulo Fashion Week vai testemunhar a manifestação do quarto ato da coleção ''Florescer'' da AZ Marias, que teve início na edição N54 da São Paulo Fashion Week, é uma exploração corajosa de temas cruciais no cenário da moda brasileira e global. Sustentabilidade, celebração de corpos reais e a influência das religiões de matriz africana estão entre os elementos essenciais da coleção. Inspirada pelo conto das borboletas de Oyá, a senhora dos ventos, e pelas relações maternas, a diretora criativa da AZ Marias, Cintia Felix, mergulha nas manifestações e significados do elemento ar. Mais de 25 looks que representam a brisa, a nuvem e a fumaça serão apresentados, combinando peças em jeans feitas de cânhamo a roupas transparentes e fluídas em tons claros e leves. A parceria com a Vicunha Têxtil, referência global em soluções jeanswear, reforça os pilares sustentáveis e socioeconômicos da marca, enquanto também educa sobre a cultura canábica e seu impacto na cadeia econômica. O Senac São Paulo, instituição onde Cintia é docente, também apoia o desfile. Além disso, a coleção será apresentada no Teatro Oficina Uzyna Uzona, palco de resistência cultural brasileira, que vem sofrendo fortes ataques à sua integridade. Em seus 9 anos de história, a AZ Marias percorre os domínios do figurinismo, refletindo diretamente a experiência de sua diretora criativa nesta área. A rica conexão com o mundo dos figurinos se torna ainda mais evidente neste ato. Por meio do emblemático palco do Teatro Oficina, a marca pretende proporcionar uma experiência imersiva com elementos cenográficos e aromas exclusivos desenvolvidos pela Givaudan Brasil, que guiarão o público entre looks que evocam casulos, borboletas e nuvens.
A trilha sonora, uma mistura de hip hop, reggae e dancehall, celebra a diversidade e a autenticidade dos corpos, refletindo a paixão de Cintia Felix pela dança popular jamaicana. Na esteira da já familiaridade da paixão de Cíntia pela música, convidamos ela e o responsável pela direção musical do trabalho para responder algumas perguntas:
Como foi a escolha da música / artista para o desfile?
-Guilherme Chaves: A primeira coisa, depois do processo criativo para a coleção e o desfile, foi entender o tom das músicas. A gente já tinha trabalhado com dancehall antes, então a gente foi agora para um outro caminho, que é o reggae, numa mistura junto com o hip-hop. Então a gente passa desde momentos de infância no início do desfile, com algumas escolhas do Bob Marley, entre outros reggae, a gente avança para uma seleção de músicas no meio do desfile, que passa por um período nos anos 90 de mistura de hip-hop com reggae, e por fim, no desfile final, a gente já avança as influências e cruza muita coisa, inclusive com dancehall.
As músicas foram escolhidas primeiro em cima do tom já levantado, e depois a partir da sequência que nós definimos o desfile, que também passa pela vida da estilista. Então, as músicas de infância, as músicas de adolescência e as músicas de uma mulher adulta feita, a estilista por completo. Então, a seleção foi feita primeiro a partir do tom, depois o estilo musical e, por final, da vida e das influências da estilista.
Conta um pouquinho como é esse processo criativo?
-Guilherme Chaves: Dentro do processo criativo, a gente definiu o espetáculo primeiro. A gente dividiu o desfile em três atos. Em cada um desses três atos tem temas e subtemas que a gente está trabalhando. E a partir deles, a gente foi fazendo a seleção das músicas. E depois foi fazendo uma filtragem. A gente tem uma apresentação de dança que foi coreografada pela mesma coreógrafo que fez os nossos últimos três desfiles. E a seleção de música foi em colaboração, tanto com o nosso produtor musical, quanto com a coreógrafa e, é claro, com a estilista.
Como você encontra inspiração na música para criar suas coleções de moda?
-Cíntia Félix: As inspirações na música, para eu criar minhas coleções, elas vão sempre tangibilizar e passar pelo hip-hop, e passar pelas minhas influências musicais particulares, né? Que são influências musicais que estão me acompanhando mais ou menos ali desde os anos 2000, que eu vou só reaglutinando e colocando pessoas novas. Então eu tô sempre muito conectada com o ouvido muito atento ao que as pessoas estão colocando, jovens principalmente, as coisas que me tocam, assim, eu tenho uma sensibilidade para a música muito forte. Então eu gosto de música e a música pra mim, ela é aquele lugar que se ela não te pega ali nos primeiros momentos iniciais, é possível que ela não me conecte. Então pra eu buscar, eu tô sempre, pra eu achar, né, essa música que me dá meu tom, eu tô sempre muito atenta, olhando pras pessoas, olhando pras coisas, visitando lugares, ouvindo músicas muito diferentes, indo pra lugares diferentes. Lugares que eu consigo perceber confluências sonoras que vão depois serem traduzidas para a moda. Por isso que a gente consegue tão facilmente fazer conexões de uma música que está muito dentro do hip-hop e outra talvez que não esteja, porque a gente está vendo um fio condutor invisível que as conecte, que a roupa vem junto nessa conexão.
Você acredita que a música tem o poder de influenciar as tendências da moda? Existem artistas musicais que você considera ícones de estilo? Como eles influenciaram seu trabalho como estilista?
-Cíntia Félix: Acho que muitos artistas, tem muitos artistas que eu considero um ícone de estilo. Eu considero muito Grace Jones, Aretha Franklin, Nina Simone, que foram essas artistas que tinham uma indumentária, uma roupa, um lifestyle que me interessava bastante e segue me interessando. Mas para contemporaneidade a gente pode falar da Beyoncé, é impossível não falar da Beyoncé, com todos os seus arcabouços visuais que se transformam em tendência, mas que nascem na música e ela é um ícone de estilo. A gente pode falar também da Rihanna, que também é um outro ícone de estilo. Tanto é um ícone de estilo que ela abre uma marca que está dentro do setor da moda, ali na lingerie, e muda a dinâmica do mercado por conta disso. Então eu tenho bastante, gosto dos artistas nacionais. Tem o Rodrigo como uma grande inspiração em estilo. Eu trabalhei na VVIR como estilista, então isso me potencializa nesse lugar. E eles influenciam o meu trabalho nesse lugar de saber que existe o norte. Eu acho que antes dessa galera não tinha quem a gente olhava e todo mundo tava muito, muito, muito, muito distante. Porque a gente não tinha o fenômeno da globalização, da internet, onde as pessoas estavam mais perto. Hoje, essas pessoas influenciam o meu trabalho num momento muito cíclico, né? Que a gente vai vendo, aí coloca na internet, aí aquilo você não tem
Você já colaborou com músicos ou artistas em projetos de moda? Se sim, como foi essa experiência e como a música influenciou o resultado final?
-Cíntia Félix: Já, eu já colaborei com o MC Marechal, quando ele estava à frente da VVAR, eu fui estilista compradora deles, e essa experiência com a música, para mim, ela é fundamental. Por que ela é fundamental? Porque o Rodrigo, ele tem uma trajetória dentro do show business que é muito fora da curva. Ele é uma pessoa que não tem um CD, mas todo mundo que gosta de rap conhece e sabe cantar as músicas, e ele lá atachou. Então, quando ele me chamou para estar perto da VVAR, eu fui com esse olhar, primeiro um olhar muito de fã, colaborando com um olhar de fã, mas também pensando muito num produto. Então, a gente desenvolveu muitos produtos legais, a gente desenvolveu college, estilos de burro de basquete, a gente fez bastante camisetas, a gente fez camiseta polo, que era uma coisa que na época ninguém do rap estava falando, mas o público-alvo do Rodrigo é um público que já tinha envelhecido e que já estava trabalhando. Em outros mercados que precisava de uma roupa que ele pudesse falar do rap, mas que não fosse aquele o oversized, a camiseta largonha, o boné, porque são pessoas que às vezes já estão na advocacia, estão em outros mercados que essas roupas, lidas como roupas do hip-hop, não potencializa. Para mim foi muito maravilhoso, eu sigo falando, sigo sendo fã e venerando o Rodrigo, porque ele não tem essa coisa de potencializar o outro, e isso influenciou no resultado final nas entregas, a gente teve entregas que foram pramborosas, a ponto de a gente ter peças esgotadas que até hoje as pessoas procuram e querem, e isso é muito bom.
Quais são as principais tendências na moda que você vê sendo influenciadas pela cena musical atual
-Cíntia Félix: As tendências na moda, que vêm sendo influenciadas pela cena musical, a gente pode falar de tudo. A gente pode falar do Brasil core, que é uma tendência que nasce dentro da periferia, no recorte muito específico, comunidade de favela. A gente está falando de um ritmo musical, a gente vai falar de funk, a gente vai falar do trap. Essas tendências vão sendo muito disseminadas, a gente pode falar agora do country com a Beyoncé, a gente pode falar do Vogue também com a Beyoncé e com Madonna. Essas tendências de moda, uma vai influenciar na outra, uma vai retroalimentar a outra. Não há uma coisa separada, porque quando você pensa num desfile de moda, quando você pensa num CD, quando você pensa nesses lugares, tudo isso está permeado por música, porque a música é esse grande elo conector das pessoas. A gente se afasta ou se aproxima por conta de uma música. Então a tendência, ela vem sendo muito influenciada sim pela cena musical, a gente pode colocar que as artistas de trap mulheres que estão aí colocando-se no mercado e falando sobre uma potência sexual feminina e aí a gente vai depois levar isso para a moda com essas roupas mais curtas, com essas recortes, com o uso das correntarias, com o uso da drag. Então tudo isso a gente consegue perceber nessa trajetória.
Como você vê essa interseção?Qual música ou artista você acha que melhor encapsula o espírito da moda contemporânea? Por quê?
-Cíntia Félix: Nossa, pra mim, Na AZ Marias é a música, assim, artista que fala mais do espírito da moda. Nossa, que difícil. Eu gostaria de falar do Gustavo, né? Gustavo Black Alien, ele, assim. Eu acho que o Gustavo, ele tem... Esse último trabalho dele é um trabalho que ele me toca muito, porque Gustavo é uma pessoa que eu sou fã, conheço e vejo o tanto que ele trabalhou pra chegar nesse espaço, o tanto que ele quase morreu pra estar aqui.
Então, pra mim, assim, ele, esse CD, acho que fica até umas horas e várias outras músicas.
Acho que essa música assim, pra mim, da Whitney, é uma música que ela me fala, assim, sobre essa moda contemporânea. É uma moda que não tá boa, mas vamos lá. E a gente vai esperar, a gente vai fazer melhor pra esse mercado tão duro, tão nocivo pra nós, que nos limita por conta do nosso demarcador social da raça. E essa música, ela vem pra mim como um vislumbre, assim, de espírito contemporâneo da moda. Que isso não é certo, mas tá tudo bem e a gente vai vencer, e a gente vai superar. E a gente vai superar porque é isso. Enquanto mulher preta, eu sempre supero e eu sempre venço.
A AZ Marias continua seu compromisso com a sustentabilidade ao unir-se à Veja (antiga Vert). A marca que há duas décadas atua na produção de tênis, acaba de se reposicionar no mercado nacional e possui uma abordagem inovadora e ecológica integrando projetos sociais e justiça econômica. Outro parceiro importante, a Natural One, líder em sucos naturais, reforça o compromisso mútuo com o impacto positivo socioambiental. A empresa já é uma apoiadora da AZ Marias de longa data, a parceria começou na primeira edição do Coletivo Natural, projeto que visa impulsionar a cultura do empreendedorismo nacional por meio da sustentabilidade, atuando como um catalisador digital de ideias inovadoras pautadas pela criatividade, respeito ao meio ambiente e transformação social. Ao explorar o elemento que representa a vida e que preenche e transita todos os planos, a apresentação do quarto ato da coleção Florescer promete guiar os espectadores, através do ar, a um momento memorável, onde moda, sustentabilidade e cultura se encontram para inspirar, conscientizar e encantar.
SERVIÇO
Desfile AZ Marias
São Paulo Fashion Week N57
DATA: 11/04/2024
HORA: 15h30 LOCAL:
Teatro Oficina: Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista, São Paulo
Diretora Criativa - Cintia Félix @cintiafaustinofelix
Diretor de Trilha - Guilherme Chaves @gcconcei
RNB BRAZIL
Coordenador de Conteúdo - Nassor Oliveira
Produtora de conteúdo - Micarla Sousa
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